quarta-feira, 16 de julho de 2014

Bairro Floresta: retrato vivo da época de uma inocente BH

Floresta: retrato vivo da época de uma inocente BH

Viaduto da Floresta, um dos ícones do bairro
Viaduto da Floresta, um dos ícones do bairro
“A minha vida é essa/descer a Bahia e subir a Floresta”. Não é apenas o fato de ser citado no verso do compositor Rômulo Paes que faz esse centenário bairro belo-horizontino ter um quê de poesia. Mas, também a presença de Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Guimarães Rosa, antigos moradores do local, mistificou ainda mais essa parte da região leste da capital.
O bairro Floresta nasceu para abrigar operários que trabalharam na construção de Belo Horizonte. Ali eles ergueram suas casas simples, feitas de zinco, próximas à Avenida do Contorno. Com o término das obras da capital, os barracões foram demolidos, dando lugar a casarões, muitos deles ainda existentes, de imigrantes europeus. Grande parte desses sobrados eram sedes de chácaras, que abasteciam a recém-inaugurada capital com produtos hortifrutigranjeiros. A marca dessa época está viva até hoje: a área da atual praça Comendador Negrão de Lima era, no começo do século passado, justamente a chácara do Comendador Negrão de Lima.
A origem do nome do bairro é controversa. Há quem diga que se deve ao fato do local ter abrigado, ainda nos tempos do Arraial Curral del Rei, uma grande mata. Outra versão diz que o nome surgiu com a crescente fama do boêmio Hotel Floresta, erguido em 1897, na avenida do Contorno. Uma terceira corrente defende que o bairro abrigou um botequim muito frequentado, cujo dono era um espanhol chamado Floresta.
A história do bairro Floresta se confunde com a própria história de Belo Horizonte pelo fato de ter sido um dos primeiros bairros a surgir na capital. Ele nasceu marginalizado no grande centro e começou a se desenvolver a partir de 1905, com a chegada da linha do bonde. Esta intensificou o comércio entre duas de suas principais vias – a Assis Chateaubriand e a Contorno.
Os anos se passaram e, para facilitar o acesso ao crescente bairro, entre as décadas de 20 e 30, foram inaugurados os viadutos Santa Tereza e Floresta. A rua Itajubá passou a ser referência para o restante da cidade como ponto de lazer: ali aconteciam os famosos bailes de Carnaval, como o “Bloco dos Bocas-Brancas” e as sessões no Cine Floresta. Também a rua era local certo para ofooting: enquanto os rapazes ficavam parados na calçada, as moças cruzavam o trecho da via compreendido entre a ruas Pouso Alegre e a Contorno, no inocente jogo de flerte do começo do século 20.
Outro ponto certo de encontro era o Cine Odeon, na avenida do Contorno. Depois de ter fechado as portas, deu lugar a uma igreja e, atualmente, a uma boate que leva o mesmo nome.

Pioneirismo
O ar ainda singelo, inocente e bucólico do Floresta contrasta com o seu vanguardismo. Foi o primeiro bairro de Belo Horizonte a ter um imóvel construído fora dos limites da avenida do Contorno: a Casa do Conde de Santa Marinha, próximo à Praça da Estação, um importante espaço cultural.
Além disso, recebeu a primeira bonbonnière de Belo Horizonte, a Fábrica de Balas Lalka, fundada em 1925 por Stanislau Genon Grochowisk, e que até hoje está localizada no bairro.
A instalação da linha do bonde em 1905, cujo ponto final se localizava no cruzamento entre as ruas Curvelo e Contorno, foi outro divisor de águas: transformou em coletivo e popular um meio de transporte até então usufruído apenas pela elite belo-horizontina.


Andar nas ruas do Floresta é respirar essa magia, é viajar pelo passado e cruzar com ele até hoje, seja contemplando um monumento, seja passando em frente a um casarão ou atravessando muitas das ruas estreitas, assim como eram há cem anos.
Caminhar e viver no Floresta é tentar descobrir o segredo de um bairro que, mesmo tão próximo ao Centro e cortado por uma das principais avenidas da cidade, ainda conserva a tranquilidade de uma cidade do interior, ainda que, paradoxalmente, conte com uma intensa atividade varejista. É procurar entender como uma região que nasceu puramente operária e suburbana se mostra sempre tão acolhedora. É usufruir de um verdadeiro “museu a céu aberto”, sempre prestes a contar, com seu jeitinho ainda inocente, a história do nascimento de nossa cidade.

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